Sobre a Raça

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Principais enfermidades que acometem a raça

DCM (Cardiomiopatia Dilatada) - A cardiomiopatia dilatada (DCM) impede que as células do músculo cardíaco se contraiam normalmente, o que faz com que o coração se dilate para melhorar o seu funcionamento. Conforme o DCM progride, a dilatação leva ao aumento da pressão dentro do coração e, eventualmente, à falha. Cinquenta por cento dos cães morrem nos primeiros meses após o diagnóstico. Para diagnosticar o DCM, o Doberman Pinscher Club of America recomenda anualmente o teste de ecocardiograma de 1 a 2 anos, juntamente com um teste anual de Holter. Cães usados em programas de reprodução devem ser testados a cada seis meses. O teste genético PDK4, descoberto pela Dra. Kate Meurs da Universidade Estadual da Carolina do Norte, reporta mutações associadas ao DCM. A mutação é autossômica dominante com penetração variável. Isso significa que apenas uma cópia do gene mutado é necessária para desencadear DCM, mas devido à sua penetrância variável, alguns cães positivos podem nunca desenvolver sinais da doença. Também é importante notar que há pelo menos duas mutações genéticas responsáveis pelo DCM no Doberman. Em dezembro de 2011, quinze por cento dos cães que testaram negativos pelo teste PDK4 mostraram sinais precoces da doença. Devido à penetrância variada da mutação genética do DCM, e aos critérios inconsistentes de ecocardiograma usados de clínica a clínica, uma abordagem multidisciplinar para o diagnóstico é recomendada. Cães com uma cópia da mutação devem ser monitorados regularmente com um ecocardiograma e um monitor Holter. Se não houver sinais de DCM, estes cães podem ser criados como cães negativos. O teste deve continuar para os filhotes até que a mutação seja eliminada. Cães com duas cópias da mutação não devem ser criados porque não há chance deles não passarem a mutação para seus descendentes.

Segundo Ignez Ferreira, a DCM sofre influência não só do meio ambiente mas também de outros fatores. Existe uma ciência nova chamada epigenética (influencia do meio ambiente ativando ou desativando genes) que ela considera ser a principal influência no desenvolvimento da doença clínica. Para Ignez, e conforme colocado no parágrafo anterior, outro fator importante é que a DCM tem penetrância incompleta e expressividade variável (alguns animais podem não expressar a doença ou podem tê-la em diversos graus de penetração-gravidade). Um animal afetado pode ou não ter a doença (dependendo da penetrância) e se tem essa doença, a forma como ela se apresenta (a forma clínica) pode variar. Numa doença poligênica como a DCM, a gravidade da doença geralmente depende do número de genes mutantes. Quanto maior o número de genes “afetados” ou “mutantes”, maior a gravidade. Por isso Ignez reafirma a importância da detecção dos animais afetados, mesmo não se tendo mapeado todos os genes que participam no desenvolvimento da doença. Mesmo os europeus com DCM não tendo correlação estatística com a PDK4, é importante eliminar os genes mutantes, pois eles podem interagir com os outros genes ainda não descobertos. Se não ficarmos atentos, o controle depois fica mais difícil.

Ignez considera ainda que as causas ambientais que podem influenciar na DCM provavelmente envolvem os disruptores endócrinos, acido fólico, etc. Por fim, para ela o stress é certamente o principal fator ambiental no desenvolvimento da doença.

O Hospital Veterinário da Universidade Estadual da Carolina do Norte anunciou que identificou uma segunda mutação genética em dobermans com cardiomiopatia dilatada (DCM), DCM2. Eles acreditam que existem duas mutações que podem levar à Cardiomiopatia Dilatada do Dobermann: PDK4 (DCM1) e ao recém-descoberto DCM2, e explicam que "embora ambos PDK4 (DCM1) e DCM2 possam levar ao desenvolvimento da doença de forma independente, o risco é maior quando um cão é infeliz o suficiente para ter ambas as mutações". A NCSU ainda não publicou o estudo por trás da mutação DCM2, portanto, não se sabe que tipo de mutação é ou onde está localizada, por isso outros laboratórios ou Universidades não podem testá-la. Laboratórios que oferecem esse teste atualmente na verdade repassam as amostras para a NCSU fazer o teste, ou seja podem ou não cobrar a mais que o cobrado pela Universidade Estadual da Carolina do Norte, por esse serviço. 


Von Willebrand – A doença é o distúrbio hemostático hereditário mais comum nos homens e também nos cães. A VWd já foi diagnosticada em mais de 54 raças de cães nos EUA, sendo encontrada com alta prevalência em Dobermanns (maior que 50%), Airedale Terrier e Scottish Terrier (Dodds, 1997; Kraus e Johnson, 1989). A herança da VWd é complexa e depende do tipo da doença. 

A VWd é causada por um defeito quantitativo e/ou qualitativo do Fator de von Willebrand (FvW), e nos cães é dividida em 3 tipos, tipo I, II e III. O diagnóstico da VWd está baseado na quantificação do FvW plasmático e testes de função plaquetária dependentes do FvW. 

Esquematicamente o tipo 3 é considerado recessivo, ao passo que muitas formas do tipo 2 são    dominantes. O tipo 1 é geralmente considerado como dominante, embora existam diversas   exceções pela heterogenicidade (Miller et al., 1979).

Em cães, os sinais clínicos são similares aos encontrados nos humanos (Schwarz et al., 1998), como as hemorragias em mucosa, sangramento prolongado em ferimentos cirúrgicos e em erupções dentárias, sendo também sinais típicos de alteração na hemostasia primária (Schwarz et al., 1998; Brooks, 2000; Budde e Schneppenheim, 2001; Schwarz et al., 2002). Nos tipos II e III da VWd ocorre uma severa tendência ao sangramento, ao passo que no tipo I o sangramento ocorre de uma maneira induzida (Brooks M: 2000, von Willebrand Disease. In:Schalm’s Veterinary Hematology, eds. Feldman BF, Zinkl JG, Jain NC, 5th  ed., pp. 509 - 515. Lea & Febiger, Philadelphia).


Síndrome de Wobbler (espondilopatia cervical) - A espondilopatia cervical (Síndrome de Wobbler) é uma patologia de etiologia multifatorial, que leva a um estreitamento do canal vertebral e consequentemente compressão da medula espinhal cervical caudal e das raízes nervosas, devido a alterações anatômicas e posicionais ao nível das vértebras cervicais (C4 e C5). Os animais afetados pela síndrome de Wobbler podem apresentar ataxia dos membros pélvicos, com ou sem dor cervical, que pode progredir para déficits neurológicos dos membros toráxicos e, em última instância, quadriplegia.


PRA - É uma condição hereditária nos dobermans. Clinicamente, a acuidade visual é diminuída, primeiro ao anoitecer, depois à luz do dia. A doença progride ao longo de meses ou anos, para completar a cegueira. Um teste de triagem está disponível e pode ser realizado por um oftalmologista veterinário. A CERF (Fundação Canine Eye Registration) certifica os olhos por 12 meses a partir da data da avaliação.


Panosteíte – Trata-se de doença causada pela escassez óssea, resultando no crescimento de um novo osso. Ela aparece sem causa conhecida, em cães com taxa de crescimento acima da média, sem histórico de trauma na maioria das vezes ou mesmo sem a prática excessiva de exercícios físicos. Manifesta-se na forma de claudicação de um ou mais membros e pode desaparecer, com ou sem tratamento. Em alguns casos, primeiro os membros dianteiros são atingidos e depois o problema progride para os demais membros, atingindo em sua maioria os ossos longos. Importante salientar que essa não é uma doença genética, é uma condição ambiental e autolimitante conforme ensina Ignez Ferreira. 


DM Mielopatia Degenerativa (doença da coluna espinhal) - A mielopatia degenerativa (DM) é uma doença progressiva da medula espinhal em cães idosos. O início é geralmente entre 7 e 14 anos e geralmente começa com uma perda de coordenação nos membros posteriores. A progressão da doença é geralmente lenta, mas altamente variável. Um cão afetado pode sobreviver até três anos ou mais. Eventualmente, o envolvimento dos nervos cranianos e/ou musculares respiratórios exige a eutanásia. Os testes genéticos para a Mielopatia Degenerativa podem identificar com segurança cães que sejam límpidos ou possuam uma ou duas cópias do gene associado ao DM. Esse resultado livre, portador ou afetado pode ajudar os criadores a determinar quais animais incluir em seu programa de melhoramento. Ainda não há estudos conclusivos publicados sobre a incidência dessa doença na raça dobermann. 


Fontes e referências utilizadas: 

  • BROOKS, M. von Willebrand Disease. In: FELDMAN, B.F., ZINKL, J.G., JAIN, N.C.Schalm’s Veterinary Hematology.5.ed. Philadelphia: Lea & Febiger, 2000, p.509-515.
  • BUDDE, U., SCHNEPPENHEIM, R. von Willebrand Factor and von Willebrand Disease. Rev Clin Exp Hematol,v.5, n.4, p.335-368, 2001.
  • DODDS, W.J. Hemostasis. In: KANEKO, J.J.; HARVEY, J.W.; BRUSS, M.L. Clinical biochemistry of domestic animals . 5.ed. New York: Academic Press, 1997. cap.10, p. 241-283.
  • KRAUS, K.H., JOHNSON, G.S. von Willebrand Disease. in Dogs. In: KIRK, R.W.; BONAGURA, J.D. Current Veterinary Therapy.
  • Philadelphia: WB Saunders Com., 1989. cap X, p.445-451.
  • MATTOSO, C.R.S. Doença de von Willebrand em cães: estudo da prevalência    e    caracterização    da    doença    em cães    normais    e    em fêmeas durante    o ciclo estral,   gestação e    lactação.  Botucatu,   2010.   108p.   Tese (Doutorado) –    Faculdade    de    Medicina    Veterinária    e    Zootecnia,   Campus    de Botucatu, Universidade Estadual Paulista.
  • MILLER, C.H., GRAHAM, J.B., GOLDIN, L.R., ELSTON, R.S. Genetics of Classic von Willebrand Disease. Blood,v.54, p.117-136, 1979.
  • Meurs KM, Lahmers S, Keene BW, White SN, Oyama MA, Mauceli E, Lindblad-Toh K. A splice site mutation in a gene encoding for PDK4, a mitochondrial protein, is associated with the development of dilated cardiomyopathy in the Doberman pinscher. Hum Genet 2012; 131(8):1319-1325.
  • Mausberg TB, Wess G, Simak J, Keller L, Drögemüller M, Drögemüller C, Webster MT, Stephenson H, Dukes-McEwan J, Leeb T. A locus on chromosome 5 is associated with dilated cardiomyopathy in Doberman Pinschers. PLoS One 2011;6(5):e20042.
  • Owczarek-Lipska M, Mausberg TB, Stephenson H, Dukes-McEwan J, Wess G, Leeb T. A 16-bp deletion in the canine PDK4 gene is not associated with dilated cardiomyopathy in a European cohort of Doberman Pinschers. Anim Genet 2013; 44(2):239.
  • SCHWARZ, H.P., DORNER, F., MITTERER, A., MUNDT, W., SCHLOKAT, U., PICHLER, L., TURECEK, P.L. Evaluation of Recombinant von Willebrand Factor in a Canine Model of von Willebrand Disease. Haemophilia,v.4, n.3, p.53-62, 1998.
  • SCHWARZ, H.P., SCHLOKAT, U., MITTERER, A., VÁRADI, K., GRITSCH, H., MUCHITSCH, E.M., AUER, W., PICHLER, L., DORNER, F., TURECEK, P.L. Recombinant von Willebrand 
  • Factor – Insight into Structure and Function through Infusion Studies in Animals with Severe von Willebrand Disease. Semin Thromb Hemost,v.28, n.2, p.215-225, 2002.
  • Maria Ignez Carvalho Ferreira, Professora adjunta aposentada do Departamento de Medicina e Cirurgia Instituto de Veterinária - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - CRMV RJ 1.417.
Sites acessados:
  • https://www.dobermandiversityproject.org/
  • https://embarkvet.com/
  • https://www.vetgen.com/canine-dob-panel-testing.html
  • http://www.animalgenetics.us/Canine/Genetic_Disease/DCM.asp
  • http://www.vetnostic.com/index.php?route=product/product&product_id=90
  • http://cepav.com.br/textos-tecnicos/
  • https://dobermann.de
  • http://www.linkgen.com.br/Caes
  • https://genera.com.br/teste-dna-animal.php
  • https://www.optigen.com/
  • https://www.ofa.org
  • https://www.pawprintgenetics.com
  • http://www.redevet.com.br/index.php/tutores/assuntos-importantes/doencas/